24.7.07

Pan Pan Pan...

Confesso sem nenhuma vergonha: sou Maria-vai-com-as-outras... Deixo-me influenciar pela massa, contagiar-me pelo ambiente, pelo menos em relação ao esporte. Na maior parte do tempo tenho verdadeira preguiça de assistir a jogos de futebol, vôlei, basquete, natação e até mesmo a competições da belíssima ginástica artística, que um dia me fez sonhar em dar piruetas pelo mundo... Não sei quem são os atletas nem quais os campeonatos. Entretanto, basta começar um grande evento, desses que nos fazem esquecer das mazelas da vida, dos impostos, da violência e de tudo o que esperam que esqueçamos, para eu me transformar na maior fã do esporte.

Sinto como se a minha participação, mesmo que pela TV, fosse indispensável para apoiar nossos atletas, e que somos todos um só povo, um só coração, brasileiros, afinal. Parece brega - e nada inteligente - me curvar ao clamor da nação, pintar meu coração de verde e amarelo, impregnar minha alma de patriotismo e torcer pelo meu país. Mas, fazer o quê? Eu me sinto assim, me emociono ao ouvir o Hino Nacional quando subimos ao pódio, e meu orgulho de ser brasileira, que já é imenso, transborda por todos os lados.

Foi com esse sentimento que coloquei o despertador para às 6 horas de vários dias de 2004, para assistir provas e partidas da Olimpíada de Atenas. E foi contagiada por amor à pátria que acompanhei todos os jogos da Copa do Mundo de Futebol, ano passado, apesar do fracasso do Brasil. Fiquei tão fanática que quase não consegui trabalhar, porque não queria perder os jogos. Tornei-me telespectadora número um de um programa de mesa redonda de futebol, diário, às 9 da noite. Tanto que, ainda quando perdi o sinal do canal da TV à cabo, continuei a ouvir o programa na telinha, porque não pegava imagem, mas pegava o som. Minha mãe esteve na minha casa alguns dias e não acreditou ao me ver ouvindo uma mesa redonda na televisão, com a imagem toda preta. Pior: não entendeu quando a convidei toda animada para ouvir comigo!

Acabou-se a Copa, lá se foi meu interesse, retomado agora com os jogos Panamericanos. Passei o último sábado inteiro e quase todo o domingo assistindo aos jogos, em quatro canais da TV paga, com o coração empolgado, batendo forte. Na segunda-feira, levei o computador para a sala e trabalhei enquanto via as competições, e torcia. Na terça, a mesma coisa. Até que, às 19:45 um avião da TAM, com 186 pessoas à bordo, derrapou na pista do aeroporto de Congonhas, aqui em São Paulo, e bateu em um prédio. Todos morreram, e a euforia pelo Pan deu lugar a um aperto no coração, um sentimento de compaixão de dimensões tão continentais quanto o amor à pátria, um pesar enorme por todas as mães que perderam seus filhos no acidente. Por todos os pais, parentes, amigos. E por todos os filhos, que não puderam dizer adeus a seus pais.

Um pesar sincero pela dor alheia, dolorido também, por imaginar a imensidão de cada perda. Uma dor por tantos cursos interrompidos, e um medo pela certeza da fragilidade humana e a força do destino. Agradecendo, ao mesmo tempo, por não estar naquele vôo nem ter algum ente querido embarcado nele. Enfim, a vida continua. Hoje, quarta-feira, desanimei um pouco de ver o Pan, e troquei minha passagem de avião por uma de ônibus. Semana que vem vou ao Rio. Melhor ir por terra, mais perto do chão.

Um abraço e até!
Maria Dolores

Texto publicado no Correio Trespontano em 21/07/2007