Três Pontas completa 151 anos. E é com uma certa tristeza ou nostalgia que essa data está povoando meus pensamentos. Vou muito à cidade, muito mesmo. Mas, fiquei (quase um recorde) um mês sem ir. Para recuperar o tempo perdido, fomos no último final de semana e fiquei pesarosa ao andar pelas ruas da nossa querida “Trespa”. Primeiro, porque muitos casarões e casas antigas estão sendo demolidos, aos poucos. É um destino infeliz, e complicado. Complicado porque os donos das casas muitas vezes não possuem o dinheiro suficiente para realizar uma restauração no imóvel, que, em alguns casos, está prestes a cair. Ou, ainda, não conhecem os meios para conseguir a difícil colaboração do estado para o processo de restauro, difícil, porém possível. Em outras situações, as pessoas realmente não se importam e preferem ver a casa “velha” no chão e levantar uma “nova”. Isso é uma grande pena, porque a história de Três Pontas vai, pouco a pouco, sendo jogada terra abaixo.
Não bastasse isso, em uma pequena volta de carro percebi que a moda agora nos prédios de pequeno porte e pontos comerciais são as placas de pastilhas revestindo as paredes externas, que não são azulejos, mas também não são ladrilhos. Ficam no meio do caminho. Em quase cada quarteirão comercial há algum estabelecimento reformado ou construído com esse revestimento. Trata-se de um material muito prático, fácil de limpar e com um quê de charme. O problema é que a grande quantidade de locais com o mesmo acabamento tira o charme e torna tudo parecido. Talvez esteja na moda essa placa, ou seja bem em conta. Só que é um tipo de moda que permanece aí, por muito tempo. A tinta, pelo menos, é mais fácil de trocar.
E foi isso o que eu percebi da paisagem urbana da cidade: construções históricas cada vez mais raras, e um boom de paredes brilhantes de pastilhas coloridas. Foi então que tive uma alegria, ao ver um prédio na rua da Vila Vicentina, todo branco. Nada contra as pastilhas, e sim, contra o excesso delas, que dão aos lugares a mesma cara, como se fossem todos uma coisa só. Esse é sempre o risco da moda: a repetição. Mas, gosto é gosto, recursos são recursos, e cada um sabe de si e da sua consciência. Quem sou eu para falar? Sou apenas uma observadora, que ama a cidade, mesmo morando fora, e que sentiu uma dorzinha no peito ao ver a paisagem urbana tomando esse caminho.
Mas, como eu disse, quem sou eu para falar? O telefone da sala da minha casa estragou e, em vez de comprar um aparelho moderno, sem fio, cheio de tecnologia, gastei o dobro do que gastaria em um último modelo comprando um telefone laranja em uma feira de antiguidades, daqueles de discar. Apesar do susto inicial do marido e do filho, todos gostaram do aparelho. E eu me distraio discando nele. Adoro fazer interurbano, só para discar o zero e ver o disco todo rodar, ouvir o barulhinho. É uma terapia - e um exercício de paciência. Portanto, gosto é gosto. Quem sou eu para falar?
(Crônica publicada no Correio Trespontano em 05/07/2008)
Até!
Maria