11.7.08

INSS, pra frente Brasil...

Hoje fui ao INSS às 7:30. Achei que abria às 7:00, pelo menos esse era o horário de funcionamento da última vez que fui lá, das 7:00 às 14:00. Mas, surpresa, estava fechado e a placa indicava: "Horário de atendimento ao público: das 8:00 às 14:00".

Faltava meia hora e só tinha uma mulher na porta. Resolvi tomar um café. No entanto, antes a mulher me perguntou, com muita educação e gentileza:

- Por favor, o que essa placa quer dizer, o que é atendimento ao público? Eu preciso fazer uma inscrição, será que vou conseguir?
- Vai sim, atendimento ao público quer dizer que esse é horário que qualquer pessoa pode vir aqui e ser atendida, perguntar, esclarecer dúvida, essas coisas.
- Ah, obrigada. Desculpa eu te perguntar, mas li a placa e fiquei com medo de ser outra coisa, eu não estava entendendo.

Fiquei com tanta pena da mulher, que aparentava ser de um nível sócio-econômico razoável, que a convidei para ir tomar o café comigo. "Não, obrigada, vou ficar aqui esperando para ser a primeira". "Quer que eu traga um pão de queijo pra você?". "Não, não, obrigada mesmo, pode ir".

E lá fui eu, pensando na pobre da moça e na sua aflição diante daquela frase indecifrável. Afinal, "atendimento ao público" é realmente difícil de entender. Não estou brincando, estou falando sério. Talvez seja uma coisa ridícula para quem está acostumado com esse vocabulário, com quem lê, nem que seja de vez em quando, uma notícia de jornal ou um livro, uma história em quadrinhos. Mas, para quem não teve estudo suficiente, ou apenas frequentou a escola e nunca mais teve contato com o universo intelectual, "atendimento ao público" pode ser um bicho de sete cabeças.

Fiquei pensando nisso enquanto tomava meu café com leite e comia um queijo quente. Logo veio uma sensação de tristeza e vergonha entre uma mordida e outra. Tristeza pela ignorância tão real daquela mulher, uma mulher tão gentil, com um sorriso e uma educação raros hoje em dia. Vergonha por eu tê-la criticado no meu íntimo, mesmo que por um segundo, como se aquela dificuldade de entendimento fosse algo absurdo. Pois bem, na meia hora seguinte o que vi, sem precisar procurar, é que essa é a realidade da maioria das pessoas, e o pior é que, que tem um pouco mais de instrução, lava as mãos, e eu me incluo aí.

Voltei ao INSS. Cada pessoa pegava a sua senha e ia para as cadeiras, esperar o número da senha e da mesa de atendimento aparecerem no painel luminoso. A dificuldade começava já na fila, para pegar a senha. Uma mulher queria senha para perícia. "Hoje não tem perícia, moça, deve ter tido algum engano". "Mas a dona marcou pra mim, sim". "Deixa eu olhar o seu papel... Aqui, está vendo, é dia 14, segunda-feira". "Ah, é mesmo, desculpa viu, desculpa, eu me enganei". E lá foi a senhorita emobra, depois de ter enfrentando a fila e perdido tempo.

O painel luminoso aponta senha 2, na mesa 4. E lá vai a senhora da senha 4. "Não senhora, olha só no painel, agora é a senha 2, no atendente da mesa 4". Deu o que fazer, mas ela voltou para a cadeira. Não sei se acreditou, mas voltou, conformada. "Desculpe, desculpe", pediu e sentou. Em dez minutos, finalmente o painel chamou: senha 4, na mesa 5. E nada da senhora da senha 4, olhando para o painel e para as pesosas ao redor com o olhar perdido, mais perdida do que nunca. Até que o gentil guarda foi chamá-la e encaminhá-la pessoalmente, braço dado, até a mesa 5. Ela devia ter uns 50 anos.

Na mesa 3, um rapaz, novo, também pede desculpa. No papel está marcado que é para ele voltar para uma nova perícia dia 11 de agosto. E hoje, dia 11 de julho, lá estava ele. Enquanto isso, mais gente chegando, na fila, pedindo a senha, pedindo desculpa, sem saber para onde ir, sem saber o que fazer com o papelzinho amarelo na mão com apenas um número e o painel luminoso com dois números: o da senha e o da mesa de atendimento. Parece uma bobagem imensa mas, para quem mal foi à escola e, quando foi, teve um péssimo ensino, isso é problema dos maiores, um imenso obstáculo. E as pessoas, na sua eterna gentileza de gente humilde, pedem desculpas pela ignorância, quando deviam brigar por ela, quando deviam gritar pelo seu direito de não só viver no mundo, mas pertencer a ele.

É difícil imaginar qual futuro pode ter o país com uma população que não reconhece o significado de uma simples mensagem de atendimento, que não compreende um painel luminoso dos mais básicos e que pede desculpas o tempo todo por não saber. Não é disbribuindo comida ou benefícios em dinheiro que o país vai progredir. A primeira providência, para sair dessa escuridão na qual a maioria dos brasileiros habita, seria investir na educação. Na educação em parceria com a cultura. Porque com conhecimentos e capacidades, cada um pode por si, não é preciso receber esmola do governo, nem pena, nem caridade.

Maria Dolores