Eu escrevia muito durante a faculdade. Hoje escrevo mais, sem sombra de dúvida. Nunca menos de duas páginas por dia, em espaço simples, times 12. Duas páginas é pouco, porque a média geral são umas 7, às vezes 15. Escrevo tanto que, no fim do dia, não sei como dei conta. Várias matérias, textos, sobre temas diferentes, para públicos diferentes, com linguagens completamente diferentes. Fora os textos que escrevo como se fossem a palavra de outra pessoa. É assim: faço a entrevista, a pessoa diz a mensagem que quer passar para seu público (isso no caso dos jornais corporativos que eu faço) e eu preciso, então, incorporar a pessoa, seu jeito de falar, de pensar e escrever o texto como se fosse ela. Faço isso enquanto estou escrevendo um texto, como agora, para a Piauí, um texto autoral, ou os textos do guia Minas, para a Bravo! Ou seja, um exercício e tanto. Porém, escrevo menos literatura do que gostaria, porque gasto a maior parte do meu tempo escrevendo essas outras coisas, o ganha pão de todo dia e que, aliás, me divertem bastante. Agradeço todos os dias por pertencer ao grupo das pessoas que ganha a vida fazendo o que gosta. Cada dia é uma grande diversão.
Só pena escrever pouca literatura, como eu dizia. Estou tentando retomar esse caminho, vamos ver no que dá. Relendo alguns escritos, encontrei vários contos curtos que escrevi durante a faculdade e vou publicá-los aqui. O texto não é muito apurado, digo que é um tanto quanto simplório, mas era a minha visão e capacidade na época. Hoje tenho mais maturidade, certamente, mas prefiro postar aqui tal como foi feito, sem correções que minha leitura atual me permite fazer. Vamos lá ao primeiro:
Cidadão
João ia atrasado (o atraso ia sempre com ele). Era longe o serviço. Fazia palavras cruzadas ou dormia. O que desse. Dormiu. Sentou na frente. Não importava se podia ou não sentar ali. Primeira curva, primeiro ronco. A bala escorrendo pela boca aberta. Boca grande. Gente entrando mais que saindo. E o ônibus inflando. Um cego, um manco, uma grávida. Outra grávida e uma criança no colo. Um, dois, muitos velhos. Estendidos, equilibrando. Pessoas indo acordar o mundo. E João. Abriu os olhos, era chegada a vez. Levantou o corpão depressa. Esbarrou no velho. Tropeçou na grávida. Derrubou a bengala do cego. Desceu. Abriu outra bala, jogou fora o papel, na calçada. Um verdadeiro cidadão.
Até!
Maria